O Presidente da China, Xi Jinping recebe o vice-presidente Hamilton Mourão, para deixar clara a importância do Brasil para o seu governo
A China quer fazer negócios com o Brasil e ponto. Não há crise e o pragmatismo prevalece na relação entre as duas principais economias da Asia e da América Latina, enquanto a China busca aliados sólidos no cenário da sua disputa com os Estados Unidos, e o Brasil não pode dispensar seu maior parceiro comercial.
Por isso, a reunião entre o presidente da China, Xi Jinping, e o vice-presidente da República, Hamilton Mourão, foi a mensagem mais clara nesse sentido, para apagar de vez qualquer sombra de dúvida, e superar definitivamente os arranhões diplomáticos provocados pelo presidente Jair Bolsonaro.
Fato raro, o presidente chinês dar atenção tão especial a um vice-presidente estrangeiro, o gesto fora do protocolo, deixou claro o reconhecimento da importância que o Brasil tem para o governo de Xi Jinping.
“Os dois lados devem continuar a considerar firmemente uns aos outros como oportunidades e parceiros para o seu próprio desenvolvimento.Devem respeitar-se, apoiar-se, ter confiança um no outro e construir as relações China-Brasil como um modelo de solidariedade e cooperação entre os países em desenvolvimento”, declarou Xi Jinping, de acordo com um comunicado do Ministério das Relações Exteriores da China, sobre o encontro que aconteceu na sexta-feira.
Sendo assim, Mourão foi recebido no Grande Salão do imponente Palácio do Povo, em Pequim, honraria para grandes encontros, e lá ouviu do presidente chinês que a parceria estratégica entre Brasil e China está em um “momento crucial” com “perspectivas mais amplas”.
Por sua vez, Mourão destacou a importância do principal parceiro comercial do Brasil. “O Brasil está disposto a trabalhar de perto com a China em trocas de alto nível, aprofundar a cooperação e a amizade, e andar de mãos dadas com a China”.
O vice-presidente Mourão disse que quer ver o Brasil participando da iniciativa chinesa “Um Cinturão, uma Rota”, uma releitura atual da antiga rota da seda chinesa, para promover investimentos em infraestrutura e estimular o comercio entre a China e o mundo.
Visita chave
Na sua visita de seis dias à China, Mourão participou da quinta reunião da Comissão Sino-Brasileira de Alto Nível de Concertação e Cooperação (Cosban), ao lado do vice-presidente chinês, Wang Qishan, onde disse que quer ver na balança comercial produtos de maior valor agregado, e não apenas agropecuários.
Só para ilustrar, em 2018, a soja foi o principal produto exportado pelo Brasil para a China, sendo seguido por óleo bruto de petróleo e minério de ferro.

“A China continuará a crescer acima da média mundial e sua demanda por alimentos, por exemplo, deverá crescer de 11% a 13% até 2030. Iremos trabalhar para ampliar e diversificar as exportações brasileiras com maior valor agregado. Aumentar o volume e redirecionar os investimentos chineses para áreas de interesse do Brasil e aprofundar a cooperação em ciência, tecnologia e inovação”, afirmou o general no evento.
De fato, desde 2009, a China é o principal parceiro comercial do Brasil, com 98,9 bilhões de dólares de negócios na balança comercial em 2018.
Visita de Bolsonaro à China
Por outro lado, Mourão afastou qualquer sinal de crise e preparou o campo para a visita de Bolsonaro a Pequim, provavelmente em agosto, quando os dois mandatários devem tratar questões mais estratégicas.
Da mesma forma, o encontro deve reforçar ainda, o convite a Xi Jinping, que é esperado no Brasil em novembro, para participar da cúpula dos BRICS.
Entre os assuntos aguardados desse primeiro encontro de Bolsonaro com Xi Jinping, é esperada uma posição mais clara do Brasil em relação às pressões dos Estados Unidos contra a Huawei e as redes 5G.
Ao mesmo tempo, o governo chinês aguarda a definição formal do Brasil sobre a sua participação na iniciativa “Um Cinturão, uma Rota”, o que seria um marco no projeto com a presença do maior país da América do Sul.
Atualmente, os países sul-americanos que assinaram o acordo com a iniciativa chinesa são Chile, Bolivia, Ecuador, Venezuela e Uruguai.
Por enquanto, o Brasil já deu os primeiros passos de avanço nas relações. Depois da visita da ministra de Agricultura, Teresa Cristina, e agora de Mourão, o governo Bolsonaro já anunciou que retirará a denúncia contra as políticas comerciais chinesas sobre o açúcar, ante a Organização Mundial do Comércio (OMC).
Finalmente, o governo brasileiro também surpreendeu ao apoiar a candidatura do chinêsQu Dongyu para a direção da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO).